terça-feira, 20 de novembro de 2012

Acidez do Dia - Vou vender minha Ferrari! Ela é muito para mim!


Eu não sei, mas tenho a impressão de que Nelson Rodrigues é, e sempre será, o nosso maior pensador! Em tempos de “autoafirmação nacional”, Copa do Mundo e Olimpíadas e o escambau, eis que me deparo com a seguinte pérola Rodrigueana:

O brasileiro é um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”

Capachão: próximo piloto brasileiro da Ferrari!
Pode parecer que o fato que eu vou mencionar a seguir não possui qualquer relação com isso! Mas acredite, meu amigo, minha amiga, possui e muito! Felipe Massa, da Ferrari, faz o quinto tempo no treino classificatório para o GP dos EUA, realizado no último domingo. Seu companheiro de equipe, Fernando Alonso, faz um treino ruim e marca o oitavo tempo. Alonso briga pelo título com Vettel, da RBR. Massa, por outro lado, apenas luta para terminar dignamente o campeonato. E o que a Ferrari faz? Ela rompe propositadamente o lacre do câmbio de Massa para que ele seja punido e perca cinco posições no grid! Para quê? Para que Alonso ganhe uma! Uma! UMA! APENAS UMA! E largue em sétimo.

É o tal negócio: o cara é funcionário da equipe e, como tal, tem de cumprir ordens. Da mesma forma que Rubens Barrichello deixou Michael Schumacher ultrapassá-lo na última curva por determinação da Ferrari. Aí eu me pergunto, aí eu te pergunto, amigo leitor: ordens foram feitas para serem cumpridas, certo? E quando elas atingem a sua dignidade enquanto ser humano? A sua hombridade? Para essas perguntas, o psicoterapeuta e médico Humberto Mariotti tem uma ótima resposta:

“A baixa autoestima deprime as pessoas e a depressão estreita obscurece o seu horizonte mental. Tudo isso faz com que elas se encolham num casulo defensivo, o qual, por sua vez, contribui para o estreitamento e obscurecimento de sua visão de mundo.

Eu realmente não consigo entender que um ser humano, na posição em que Massa se encontra, ou na que Barrichello se encontrava, não lute, não questione, não se coloque perante as injustiças. Só que, por outro lado, o comportamento deles é o nosso comportamento, guardadas as devidas proporções e situações. Perante as injustiças que nos são postas, baixamos as nossas cabeças! “Sou funcionário, preciso do trabalho”! “Não posso reclamar... eu preciso do emprego”! E assim caminha a brasilidade vira-lata!

O problema todo é: estamos nós, brasileiros, confundindo cordialidade com subserviência! Nós, hoje, somos uma nação de Capachões, o personagem puxa-saco da TV Colosso! Tudo está bem, nosso chefinho (ou chefinha) é magnânimo (ou magnânima)! E o resto? Ah, deixa pra lá! Pra quê reclamar? Mas Ayrton Senna jogou o carro pra cima de Prost! Mas Nelson Piquet tirou o papel higiênico do banheiro de Mansell durante uma sessão de “problemas intestinais” do inglês. Os métodos são errados? Não tenho dúvidas de que são. Tanto quanto não reclamar, não se posicionar! Na essência da coisa, porém, perdeu-se isso nos brasileiros, sejam eles esportistas, políticos de bem, pensadores, formadores de opinião: o inconformismo! Lutar até o fim, com as armas que se tem, em busca do que é certo mesmo, do que é justo! 

Termino esse texto com a sensação de que eu não falei tudo o que queria falar. Acho realmente que está faltando alguma coisa a ser dita. Mas, enfim, vou deixar assim mesmo! Já tá bom demais! Não vou reclamar, não! Dá muito trabalho! É melhor deixar como está!

Parabéns, Massa! Parabéns, Barrichello! Vocês são exemplos para o nosso povo! Só quero que vocês dois saibam de uma coisa, porém: para vocês eu não vendo minha Ferrari!

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